quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

1 ano

Faz hoje 1 ano que fui operada para retirar a tiróide. Faz hoje 1 ano que estive afastada da minha filha pela primeira vez. 3 noites e quase 4 dias.
Na altura acabei por não falar mais sobre este assunto, mas agora, vou escrever o que me lembro destes dias...


- 2ª feira, 6 de Dezembro, saio de casa dos meus pais por volta das 7h da manhã. A Tiz está na caminha dela a dormir tão quentinha e enquanto a beijo e cheiro antes de sair, tento que as lágrimas que me caem pela cara abaixo, não lhe caiam em cima.

- O P. só pode ficar um pouco comigo e depois teve que sair, pois eu tinha que ir fazer exames. De pijama e chinelos percorremos corredores do HSM, (não fazia ideia de como aquilo é um mundo ali dentro) e todo aquele aparato fazia-me sentir doente.

- A comida é péssima e não tem sal. O P. trouxe-me sacos de comida que dava para a enfermaria inteira.

- Na hora da visita o P. esteve sempre comigo e vimos "o sexo e a cidade 2" no meu computador.

- O P. teve que ir e a noite parecia interminável. O sono não vinha e alguém no meu quarto ressonava...

- Não podia ouvir a voz da Tiz ao telefone ou ver uma foto enviada pela minha mãe no telemóvel, que as lágrimas corriam incontroláveis.

- Adormeci com a foto dela na mão, a foto que andou sempre no bolso do meu robe/pijama.


-3ª feira, 7 de Dezembro, chegou o dia. Vou levar anestesia geral pela 2ª vez na minha vida e não é uma sensação nada boa.

- Soube de manhã que de um grupo de 6, eu seria a 4ª a ser operada.

- O meu pai e o P. chegaram e estiveram sempre comigo.

- Por volta das 14h deram-me algo para tomar que me deixou meio grog, é uma sensação horrível. E o P. e o meu pai sempre ali comigo.

- Levam a minha cama para o bloco por volta das 16h. O P. e o meu pai vão comigo até à porta, e o P., tal como uma barragem que não aguenta mais pressão, desfaz-se em lágrimas agarrado a mim... eu meio grog tentei animá-lo. O meu pai, cara de aço, coração de manteiga, também cedeu.

- Uma enfermeira e um enfermeiro estagiário colocaram-me a soro e eu dormitava e ia acordando. Na sala do lado estavam 2 homens a "arranjar" uma máquina de lavar "loiça" industrial. Tinham as proteções verdes para o cabelo e usavam um fato descartável azul. O mais novo era a cara do meu irmão... Eu meio grog, não queria crer no que os meus olhos viam! Fiquei que tempos a observá-los (enquanto dormitava) e estava maravilhada com um glimpse do meu irmão ali perto.

- Pedi à enfermeira que avisasse a minha família de que estava bem e calma. Sentia frio, levaram-me para uma sala gigantesca, com janelas gigantescas e ao ver a paisagem sorri. Era o estádio de Alvalade, enorme, todo ele ocupava as 3 janelas gigantes.

Isto só pode correr bem, pensei eu.

- Deitam-me naquela tábua de alumínio, já não me lembro se vi a cara do médico e apaguei.

- Acordei por volta das 21.30h, numa sala de recobro, o P. e o meu pai ao meu lado. Passado pouco tempo têm que ir embora.

- O enfermeiro reclama que eu estou a demorar muito a acordar, eu respondo que tenho uma filha de 3 anos e que estou ali de férias para dormir.

- Vou para o meu quarto, tenho muitas dores de garganta, como uma faringite levada ao extremo e a cabeça azambuada, tenho fome e dão-me uma sopa.

- Mando sms aos meus amores e acalmo-os, digo-lhes que estou bem.

- Durmo.


- 4ª feira, 8 de Dezembro. Acordo antes das 8h com o médico a entrar no quarto.

- O dr. José Rocha, é um ser humano FABULOSO! Pergunto-lhe se posso falar (tinha medo de esforçar a voz) e ele diz-me que já o estou a fazer!

- Telefono à minha mãe que ficou admirada/surpresa/feliz de me ouvir. Ela coitadinha nunca me foi ver. Pedi-lhe que nunca tirasse os olhos de cima da minha vida, e mais uma vez, como tantas outras na vida, ela fez o que lhe pedi.

- Levantar, andar, com muito esforço meu, parece que punha o pescoço no chão... fazia uma força brutal para não mexer o pescoço, o que me fazia precisamente, muitas dores no pescoço.

Tomar banho.

-Estava a começar a almoçar, aquela coisa desenxabida e aparecem os 3 homens da minha vida no corredor.

- O meu irmão trazia na mão, um bouquet de rosas do baptizado da Tiz, e abraça-se a mim a chorar, a soluçar como eu já não via há muitos anos.

- O P. e o meu pai acharam-me com boa cara.

- Entre medicação para as dores de garganta, o dia foi-se passando e eu só queria poder ir embora e ver a Tiz.

- Todos os dias o P. passava na loja da Disney e levava o que ela pedia, enviado pela mãe.


- 5ª feira, 9 de Dezembro, acordo às 6.30h com as luzes do corredor acessas e o barulho das arrastadeiras a cairem no chão.

- Visita do médico, ai que ânsia para ir embora.

- Chega o P., procedimentos burocráticos, retirar metade dos pontos (que medo que eu tinha e não doeu nada), despedir daquelas "colegas" de infortúnio e ir de mão dada com o P. dali para fora. Ia ter com o meu amor.

- Todo o pessoal, médico, estágiário, auxiliar, foi absolutamente fantástico. Fiquei maravilhada com a maneira como nos trataram.

- Por volta das 15h chego a casa, ela já está na janela a dizer-me adeus. Entro em casa e ela está junto à porta, ponho-me de joelhos para ficar mais perto dela, que depois de tantas recomendações, tem receio de me abraçar e magoar.

Aproxima-se de mim com os braços esticados para trás. A minha mãe e avó com os olhos cheios de lágrimas. Cheira a casa, a arroz doce e Natal, é tão bom estar de volta!

8 comentários:

  1. Aiiii!!!... Obrigadinha pelas lágrimazitas logo de manhã, caraças!...
    Já passou minha linda, tudo para ficares impec.!
    Um beijão enorme nessas hormonas que estão no auge e que andam a contagiar as minhas ;)

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  2. Deve ter custado tanto, eu morro de medo de engravidar mesmo por causa disso, ficar longe do meu piolho.
    Beijocas

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  3. Hihihi ;) Hormonas, quais hormonas?! Faz hoje 1 ano que deixei de as ter... Agora são apenas artificiais e não são a mesma coisa ;)

    beijos*

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  4. Pimpolha, eu morria de medo de engravidar outra vez, por medo do parto e do cansaço que um recém-nascido causa...
    Mas olha temos que pôr esses medos para trás das costas e atirarmo-nos de cabeça... as partes mais difíceis ficarão para trás e a parte boa está sempre a aumentar ;)

    E além disso no caso de um parto, os irmãos mais velhos podem fazer visitas...

    Beijos*

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  5. E também faz um ano que decidiste dar um(a) mano(a) à Maria Tiz...
    Lembro-me como se tivesse sido ontem...e fiquei tão contente por vocês!
    Que continue tudo a correr bem!
    Um beijinho muito grande!

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  6. Confesso que não fui capaz de ler tudo mas o importante é que estás bem :)

    (E só de pensar que um dia terei que passar pelo mesmo…)

    Beijos
    Tété & Xavier

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  7. Imagino o que custou! e sim o HSM é mesmo um mundo!
    ainda bem que já passou!
    um grande beijinho para ti!

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  8. e "prontus" chorei já a imaginar quando for para a maternidade ter a Beatriz, e ficar o meu sol em casa :(( Nem costumo pensar muito para não sofrer já... Mas ai ai ai que não vai ser fácil!!!!
    Sei que vou ter a menina comigo, mas e o meu menino grande??
    upft

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