Nem sei como começar aquilo que venho contar... espero que escrever estas linhas me ajude a desatar o nó que sinto no estômago e na alma...
Este fim de semana fomos ao Continente, eu e a Tiz, ver a família. O tempo estava uma porcaria na 5ª feira, mas 6ª melhorou e lá fomos nós. Foi óptimo como sempre... a Tiz estava radiante quando viu os meus pais e irmão no aeroporto, guinchava, ria à gargalhada, abraçava-os e dava-lhes beijos, uma delícia de se ver!
Sábado à noite o temporal que toda a gente sentiu, fez-me ficar ainda mais ansiosa ao pensar no regresso no dia seguinte...
Mas domingo amanheceu mais calmo e lá seguimos viagem de volta à ilha... uma viagem boa sem sobressaltos que rapidamente se alterou ao sobrevoarmos o porto santo... O porto santo fica a 15 minutos de avião da madeira, pelo que nesta fase já estávamos perto do destino quando começou a turbulência...
O vento era muito forte e em várias direcções como é típico nesta zona, mas estava particularmente pior... o avião tentou aproximar-se da pista, mas ao parecer que se desmenbrava logo se afastou... aqui eu já estava em pânico.
Andamos à voltas uma série de tempo, até que temos a informação que se vai fazer novamente à pista.. a abordagem nem foi das piores, mas quando estava já mesmo em cima da pista e parecia que todo aquele inferno ia terminar, ele acelera e torna a levantar.
Aqui o avião levou tanta "porrada" que eu nem sei como se manteve no ar... eu estava fora de mim, parecia uma experiência surreal, aquilo não me podia estar a acontecer... não com a minha filha ali...
Estivemos algum tempo até conseguirmos chegar a uma zona mais calma e por essa altura a Tiz vomita, penso que sobretudo por sentir os meus nervos...
Passado um tempão informam-nos que vamos para o porto santo, as pessoas começam a aplaudir de modo a mostrar ao piloto que é a melhor opção, não fazia sentido tentar outra aterragem naquela situação...
Andámos quase 1 hora às voltas e sob turbulência forte e não havia maneira de chegar ao porto santo que fica a 15 minutos de distância... a Tiz vomita novamente...
Sobrevoámos finalmente o porto santo e o avião não se conseguiu aproximar do aeroporto... o vento era fortíssimo.
Passado não sei quanto tempo, lá aterrámos. Aí eu consegui finalmente chorar... ainda não encontro palavras que consigam traduzir o que senti. Medo, medo, muito medo, um medo irracional...
Medo de não conseguir por o meu tesouro a salvo daquele pesadelo... valeram-me as pessoas que estavam junto a nós, que me deram a mão, me acalmaram, ajudaram a limpar os vómitos, brincaram com a Tiz... a esses eu estou eternamente grata... é realmente nas alturas de crise que as pessoas mostram o seu carácter...
O piloto saiu da cabine para falar connosco e estava vermelho que nem um tomate. Deu-nos a hipótese de voltarmos para Lisboa com todas as despesas asseguradas pela companhia ou ficarmos no porto santo sem a certeza dessa garantia.
Eu já tinha feito a minha opção assim que senti as rodas do avião a tocarem na pista, eu dali já não saia!
Só conseguimos sair do avião uma hora depois, já passavam das 21h, eu só queria entrar num quarto de hotel e tratar da minha menina. Passámos antes na farmácia para comprar o leite dela, e ainda tive que telefonar para a senhora vir abrir a farmácia e esperar uns 10 min à porta com uma ventania desgraçada...
Chegadas ao hotel, a Tiz tomou banhinho, bebeu o leite e adormeceu serenamente... eu a olhar para ela percebi como era feliz.
No meio de toda a agitação, ela pouco reclamou... ficou mais de 3 horas sentada ao meu colo presa com um cinto de segurança, sem comer, sem mudar a fralda e ainda conseguia sorrir...
Lá em cima, imaginava também como estariam os que estavam cá em baixo... pura agonia e aflição.
O meu querido P., na 2ª feira foi para o aeroporto às 7h para ir no vôo das 8h ter connosco ao porto santo... mas o avião em que era suposto fazer a viagem avariou-se na noite anterior com todo aquele vento e teve que levar uma nova peça... essa operação só esteve concluída às 20h... hora a que ele se juntou a nós, depois de passar o dia todo no aeroporto.
Não há palavras para explicar como me sinto segura perto dele!
Na 2ª feira o barco que faz a travessia porto santo-madeira não saiu do porto, pois o tempo continuava mau...
Regressámos então a casa ontem no barco das 18h, o mar estava muito agitado e a Tiz vomitou :( mas esteve sempre bem disposta.
Quando estávamos a uns 30 minutos do porto do funchal, o comandante do navio avisa que houve uma avaria na casa das máquinas e iam ter que parar o barco para fazer a substituiçao da peça... eu e os outros que estavam também de regresso depois daquela viagem de avião, olhávamos uns para os outros e pensávamos no que mais poderia acontecer... Felizmente foi rápido e nem 5 minutos depois, recomeçou a viagem.
Felizmente chegámos a casa! Hoje a Tiz ao chegar à escola, estava tão feliz ao ver os colegas e a educadora, já devia estar com saudades da sua rotina...
Sei que com o tempo tudo vai acalmar, mas eu ainda tenho o sistema nervoso todo alterado, é muito difícil adormecer, pois sempre que fecho os olhos as imagens surgem-me em catadupa à frente e é muito angustiante...
Lembrei-me de
ti e de todas as pessoas que fazem, de andar no ar a sua profissão, eu era incapaz... Enquanto esperávamos para sair do avião, várias pessoas falavam com as hospedeiras e eu só pensava que preferia estar como aquela empregada de limpeza, de joelhos a limpar o vómito da minha filha, do que ter aquela profissão tão arriscada...
Em mais de 6 anos a viajar quase mensalmente, nunca tinha tido uma viagem assim... eu que já tinha muito medo, vi o caso piorar depois da Tiz nascer... detesto ter que a por dentro de um avião... nem sei como vou fazer daqui para a frente...
Só sei que não me posso dar ao luxo de não andar de avião... não estando aqui, deste lado do Atlântico...
Obrigada S. por te teres lembrado de nós e nos teres enviado energias positivas. Um abraço muito apertado!
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